Morando em pensões, mudando de casa três vezes por mês, trocando de emprego em tempo recorde (e muitas vezes procurando um), divagando sobre a vida e as bizarrices que acontecem à sua volta: assim passa Ana Paula a maior parte do tempo. Autodenominada Paulinha ou Polly, a autora-personagem passa por Campinas, São Paulo, Buenos Aires, Uberlândia, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Goiânia, Pipa, Londres... aparentemente, porque foi expulsa de casa. Mas, às vezes, ela se pergunta se não gosta mesmo é dessa “vida bandida”.
As variações de cenário e par romântico nesta história da vida real são tão frequentes quanto as oscilações de humor da personagem. A linguagem, atual, espontânea e de uma acidez e perspicácias deliciosas. Por vezes, Polly demonstra uma força invejável. Em outros momentos, ela própria se condena e aponta os inúmeros erros que a afastam de uma vida minimamente comum — crediário de sofá, trabalho, um dia para lavar roupa. A mesma vida que às vezes ela parece desejar e, outras vezes, repelir com violência.
Produzido a partir de textos publicados em seu blog pessoal (que passou por vários endereços eletrônicos), Vacaciones conta a história catártica da autora-personagem que se autodescreve como “difícil de lidar” — mas que sem dúvida se destaca, uma antítese à mediocridade. E isso é fácil de perceber: Polly transita da cultura pop a referências mais eruditas com maestria e equilíbrio. O mesmo jogo de cintura, aliás, de quem soube sobreviver pegando carona na estrada e, apenas pouco tempo antes, bebendo Guinness na Irlanda como se não houvesse amanhã. Um desabafo e uma forma de guardar as memórias para si própria, Vacaciones apóia-se justamente na instabilidade, naquilo que, ao mesmo tempo, tanto assusta quanto parece libertar.
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